Publicado em 100diasdegratidão

#100diasdegratidão

Há cerca de um mês eu mencionei finalmente ter me recuperado de um turbilhão emocional que, mal sabia eu, estava apenas começando. Setembro foi um mês difícil, cheio de ansiedades, tremores, stress e coração acelerado (e não daquele jeito bom). Teve coisas lindas e divertidas, é claro, porque a luz sempre alcança a gente, mas a maior parte do tempo foi realmente bem difícil. E agora, no meio da segunda semana de outubro e depois de um feriado (com meu amor lindo <3) que me ajudou a desestressar bastante, ainda não ouso cantar vitória sobre essa minha fase POR FAVOR ALGUÉM ME DÁ UM ANSIOLÍTICO E UMAS FÉRIAS URGENTEEEE, embora já me sinta bem melhor. A leve tremedeira e o coração batendo rápido continuam marcando presença por aqui, mas minha cabeça já vislumbra felicidade nos afazeres, meus sonhos já ousam botar as asinhas pra fora novamente, com menos medo de tempestades torrenciais de lágrimas e essas poças de dores pegajosas que costumam constar na meteorologia desses momentos chatinhos.

Andei fuçando a internet e não sei bem como caí nesses links de “desafio dos 30 dias”, que geralmente remetem à alimentação e exercício físico, mas prefiro evita-los. Embora a ideia de dividir uma meta maior em pequenos objetivos distribuídos por um mês me pareça extremamente sedutora, vou tentar não cair na tentação de planejar rigorosamente meus próximos dias

Com a mesma ausência de explicações para tal, dos desafios de 30 dias cheguei a um projeto de que já ouvira falar, o tal #100happydays, em que as pessoas postam diariamente nas redes sociais, durante 100 dias seguidos, uma foto que represente um momento de felicidade de cada um daqueles dias. Fui ao site do projeto e, apesar de achar bacana o fato de se deixar claro que “não é uma competição de felicidade, ou um concurso de exibicionismo. Se tentares agradar aos outros ou fazer-lhes inveja com as tuas imagens – perdeste mesmo antes de começar”, me parece meio esquisita essa necessidade tão 2015 que a gente tem de mostrar que ta feliz. Porque “a inveja tem sono leve”, porque não quero aprofundar a angústia de ninguém com uma felicidade minha que talvez nem seja tão feliz quanto pinta o filtro do instagram e porque “o privado é político” mas pera lá!, prefiro fazer minha própria versão do desafio.

Além dessa questão de exposição, implico com as palavras escolhidas. O próprio site diz que “71% das pessoas que tentaram completar este desafio falharam, dando como principal razão a falta de tempo“, e eu não acho que as coisas sejam bem assim. Nos propormos a cumprir a meta de sermos felizes 24h por dia durante 100 dias é absolutamente doentio. Sei que a proposta do desafio não é essa, mas aposto que o motivo da “falha” dos tais 71% se deve ao fato de encararmos essa palavrinha – felicidade – sob uma ótica infantil e hedonista que eu conheço muito bem, e da qual eu quero distância.

Por isso, porque estamos trabalhando 100 anos de solidão em Hispânicas IV e porque me gustan las intertextualidades (ainda que infames) resolvi chamar o que pretendo fazer pelos próximos 3 meses e 1/4 de 100 dias de gratidão. Não pretendo ter, até 20 de janeiro de 2015, 240 horas de felicidade ininterrupta – nem de gratidão initerrupta, na verdade. Quero, na verdade, exercitar minha capacidade de ser grata, que certamente se encontra acuadinha debaixo de tanto stress e tremedeira. Eu, fazedora de scrap, colecionadora de memórias com vocação pra ligeiramente vintage, acredito que a gratidão é uma amiga íntima ou vizinha da felicidade, se é que elas não são a mesma coisa ou algo tipo gêmeas siamesas.

Ainda não sei como vou registrar isso, mas creio que eventualmente venha ao blog pra falar sobre. Quer dizer, a menos que o stress dessa modernidade quase gasosa seja mais forte que minha vontade zen de ser e eu me junte aos 71% que “””””falharam”””””. Mas se for o caso tudo bem, também, que eu não pretendo desencarnar nos próximos 100 dias nem tão cedo depois disso.

(Por via das dúvidas, será melhor deixar uma carta pra eu da próxima encarnação? Hmm, não. Deixa eu decidir ser grata sozinha seja lá quem eu for).

Autor:

Carioca, 22 invernos, leão com touro. Gosto de apreciar e busco produzir arte. Sou professora. Faço cadernos. Amo. Assim, intransitivo, mesmo.

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